(Ao menos uma vez por semana, publico um texto exclusivo para assinantes pagos deste blog. Este é um deles.)
(Há algum tempo, publiquei este texto no Twitter, mas como cansei de produzir conteúdo de graça para Elon Musk, Mark Zuckerberg e para o Google, vou reproduzi-lo aqui. Aliás, uma das funções deste blog será arquivar textos que criei para outros espaços que não me pertencem.)
De modo geral, filmes sobre serial killers se interessam muito mais pelos crimes em si - e pelo ato da perseguição - do que em tentar fazer um estudo psicológico do assassino ou em retratar de modo tridimensional suas vítimas. É relativamente raro, portanto, um filme como Minha Vingança (Fukushû suru wa ware ni ari, Japão, 1979), dirigido pelo mestre Shohei Imamura e inspirado pelo caso de Akira Nishiguchi, um serial killer que, no início da década de 60, aterrorizou o país.
Vivido pelo fantástico Ken Ogata (Mishima), o assassino aqui se chama Iwao Enokizu (mas é obviamente inspirado em Nishiguchi) e é seguido pelo filme desde um episódio traumático da infância até sua execução, aos 41 anos.
Sem querer convencer o espectador de que os crimes do sujeito podem ser explicados de modo simplista por episódios específicos de sua vida, Imamura opta por observar o comportamento de Enokuzi e suas relações com sua família e com suas vítimas. Com isso, Minha Vingança se torna mais estudo de personagem do que "filme sobre serial killer”, evitando ainda glamourizar o protagonista e investindo tempo, em vez disso, para humanizar suas vítimas. É um filmaço.
Outro bom filme inspirado em um crime real é Justiça Injusta (Try and Get Me! ou The Sound of Fury, 1950), dirigido por Cy Endfield. O longa se inspirou em um caso ocorrido em 1933, quando uma multidão invadiu uma delegacia e linchou dois acusados de assassinato.
Embora o terrível crime cometido pela dupla seja indiscutível, o filme se interessa também em abordar o falso moralismo que ampara o conceito de "justiça com as próprias mãos", a responsabilidade da imprensa ao manipular emoções e a desigualdade social que leva à criminalidade. Não é surpresa, portanto, que o diretor tenha sido um dos muitos que tiveram a carreira em Hollywood destruída pela "caça aos comunistas" do macarthismo, tendo que se mudar para a Inglaterra para seguir na profissão. Justiça Injusta é, em essência, um noir com consciência social.
(Além disso, tem a curiosidade bobinha de trazer Lloyd Bridges jogando boliche décadas antes de seu filho Jeff se tornar um ícone fazendo o mesmo em O Grande Lebowski.)
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