A inacreditável saga para levar O Homem que Matou Dom Quixote às telas
E a persistência de Terry Gilliam
(Ao menos uma vez por semana, publico um texto exclusivo para assinantes pagos deste blog. Este é um deles.)
(Há algum tempo, publiquei este texto no Twitter, mas como cansei de produzir conteúdo de graça para Elon Musk, Mark Zuckerberg e para o Google, vou reproduzi-lo aqui. Aliás, uma das funções deste blog será arquivar textos que criei para outros espaços que não me pertencem.)
Se Terry Gilliam fosse brasileiro, já o teriam mandado se benzer há muito tempo. Poucos cineastas são tão azarados quanto ele. Boa parte de seus projetos teve problemas graves na fase de produção e há relativamente pouco tempo seu histórico de azar ganhou novo capítulo.
Em As Aventuras do Barão de Münchausen, por exemplo, os problemas começaram bem antes das filmagens: os cavalos que haviam sido treinados na Itália para o filme foram impedidos de viajar para a Espanha, onde a obra foi rodada, em função de uma epidemia virótica equina. (Pois é.) Além disso, um guindaste caiu sobre parte dos cenários faltando uma semana para o início das filmagens. Quando finalmente começaram a rodar o longa, já no primeiro dia ventos fortes atrapalharam o trabalho. Ah, sim: e parte dos figurinos ficou presa na alfândega. Ao final do dia, Gilliam tinha rodado só 24 segundos de filme; no dia seguinte, conseguiu um pouco mais: 35 segundos. O projeto todo enfrentou atrasos e o orçamento estourou. Quando ficou pronto, o estúdio passou por uma mudança de direção e a obra foi lançada porcamente, já que os novos executivos não tinham interesse em divulgar algo criado na gestão anterior.
Já em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, a morte de Heath Ledger no meio das filmagens quase provocou o cancelamento do projeto - até que as cenas que faltavam foram completadas com as participações de Johnny Depp, Colin Farrell e Jude Law.
Mas nenhum bate o recorde de O Homem que Matou Don Quixote. Este é um projeto que Terry Gilliam iniciou há mais de vinte anos, desde que começou a desenhar os primeiros cenários em 1998. Em 2000, no primeiro dia de filmagens, já foi possível ver que o velho azar estava de volta: jatos passaram sobre as locações o tempo todo, inutilizando o áudio. Ruim? Pois no dia seguinte, uma enchente repentina destruiu boa parte dos cenários.
Como se não bastasse, o veterano Jean Rochefort, que fazia Quixote, teve hérnia de disco e voltou pra casa.
Gilliam até insistiu algum tempo, rodando apenas as cenas com seu outro ator - Johnny Depp - enquanto esperava Rochefort, mas este teve que se submeter a uma cirurgia e foi obrigado a sair do projeto. Com milhões já gastos, o filme foi cancelado e os produtores acionaram a seguradora em função do cancelamento. Embora o seguro não cobrisse desastres como a enchente, as partes fizeram um acordo e a seguradora passou a ser dona do projeto (incluindo os direitos sobre o roteiro).
O filme morreu.
Ou não.
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