(Toda semana - quando não estou viajando -, publico um texto exclusivo para assinantes pagos deste blog. Este é um deles.)
No último dia 12 de junho, pouco antes de minha viagem para Curitiba a fim de cobrir o Olhar de Cinema, li a notícia de que o ator Treat Williams havia morrido aos 71 anos de idade em um acidente de moto ao colidir com um carro que atravessou sua pista sem aviso. Já entristecido com a precocidade e a natureza daquela fatalidade, fiquei ainda mais mexido ao descobrir que apenas três horas antes Williams havia publicado um tweet no qual incluiu um vídeo que o trazia aparando a grama de sua propriedade.
Em um momento, ele se encontrava sob o sol de um dia bonito e compartilhava um sentimento agradável; no seguinte, estava caído em uma rua enquanto suspirava pela última vez cercado por estranhos.
É tentador querer extrair lições deste tipo de tragédia - “precisamos valorizar cada instante de vida, pois jamais sabemos quando esta pode chegar ao fim”, etc e tal -, mas, além da obviedade de tal lição, a verdade é que todos sabemos como qualquer minuto pode ser o último; a percepção de nossa mortalidade jamais nos abandona totalmente.
Somos nós quem tentamos esquecê-la na maior parte do tempo para evitarmos um mergulho mórbido e inútil em nossa fragilidade.
…
“Nós”? Talvez eu esteja sendo arrogante ao presumir que a questão afeta a todos de modo similar; é bastante possível que a intensidade desta percepção seja radicalmente distinta para cada um - ou mesmo irrelevante para muitos. Se este for o caso, considerem-me um sujeito invejoso, pois esta é uma indiferença que eu adoraria sentir.
Não que eu tenha medo da morte - já tive e bastante. À medida que fui envelhecendo, porém, o medo foi ficando para trás, restando apenas a inquietação sobre como esta pode chegar, o que por vezes me leva a um exercício de imaginação terrível enquanto tento me situar nas mais diversas circunstâncias: uma longa doença? Um acidente? Um ato de violência? Uma doença súbita e rápida? Durante o sono? Ou as pessoas que supostamente morrem enquanto dormem na verdade despertam com dores terríveis que ninguém testemunha?
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