(Ao menos uma vez por semana, publico um texto exclusivo para assinantes pagos deste blog. Este é um deles.)
Passei o dia hoje assistindo aos curtas que concorrem nas três categorias especializadas: Animação, Live Action e Documentário. No Brasil (e em muitos países), são considerados curtas-metragens aqueles trabalhos com até 30 minutos de duração; entre 30 e 59 minutos, são chamados de médias-metragens; a partir daí, longas. No entanto, a Academia não considera a existência de médias e, por isso, há obras aqui com 40 minutos.
Abaixo, falo um pouco sobre os quinze filmes.
Live Action
A Incrível História de Henry Sugar, roteirizado e dirigido por Wes Anderson a partir da história escrita por Roald Dahl, é talvez o mais wesandersoniano de todos os seus filmes (quem já leu minhas críticas sobre seus longas entenderá o subtexto deste comentário): contando com uma direção de arte sensacional (que, suponho, combina cenários práticos e efeitos digitais), esta obra é uma espécie de matrioska narrativa, contendo narradores dentro de narradores dentro de narradores, sendo fascinante observar os diferentes estilos de cada uma de suas passagens. Além disso, Anderson emprega a metalinguagem de forma ambiciosa ao incluir os “autores” de cada linha como figuras dentro das próprias histórias, explorando com bom humor uma atmosfera de fantasia que, sob a leveza aparente dos diálogos, traz um comentário tocante sobre generosidade e como moldamos quem queremos ser.
Já o dinamarquês Ridder Lykke (Knight of Fortune) se equilibra entre o humor e o drama ao acompanhar um homem que hesita diante do momento pavoroso em que terá que abrir o caixão no qual se encontra a esposa e acaba conhecendo um outro viúvo em situação aparentemente similar. Usando o disfarce de comédia de situação para abordar as diferentes faces que o luto pode assumir, o filme de Lasse Lyskjær Noer traz duas atuações afinadas de Leif Andrée e Jens Jørn Spottag, conseguindo a proeza de ambientar boa parte da narrativa em um ambiente com as cores drenadas por lâmpadas fluorescentes sem, com isso, perder o calor humano essencial para seu sucesso.
Enquanto isso, o canadense Invincible conta uma história obviamente bastante pessoal para seu diretor, Vincent René-Lortie, que se inspirou na morte precoce de um amigo para conceber este curta sobre um adolescente que foge de uma prisão para jovens infratores (na verdade, um centro de internação), concentrando-se nas últimas 48 horas de vida do rapaz. Sem pintar os responsáveis pelo centro como monstros - ao contrário: o supervisor da instituição é vivido com gentileza por Ralph Prosper -, o filme retrata o protagonista, Marc (Léokim Beaumier-Lépine), como alguém com um temperamento naturalmente contestador cujo comportamento doce ao lado da irmã e amigável ao lado dos demais internos logo se transforma em uma postura hostil e violenta diante dos funcionários do centro, faltando-lhe maturidade emocional para compreender como está apenas dificultando o próprio caminho. Neste aspecto, a obra frustra por não investigar melhor o que move Marc - a pouca duração nem permitiria isso - e, assim, a impressão que temos é a de que o desfecho é mais uma convenção dramática do que algo orgânico (mesmo que tenha ocorrido de fato).
Por outro lado, ao menos aquele curta evita o melodrama barato - o que não é o caso do britânico E Depois? (The After), dirigido por Misan Harriman. Soando artificial já em sua introdução, que retrata uma tragédia de modo tão sensacionalista que torna-se difícil encará-la com seriedade, o filme salta um ano no tempo para acompanhar o traumatizado Dayo (David Oyelowo), que a esta altura já se converteu no estereótipo do protagonista sofrido com sua barba por fazer e as conversas que mantém com a foto das pessoas que perdeu. Agora trabalhando como motorista de aplicativo (quando antes era aparentemente um executivo bem-sucedido; outro clichê pavoroso - e ofensivo - para ilustrar sua dor), ele certo dia transporta um casal e a filha, acompanhando a briga que os adultos mantêm no banco de trás enquanto a jovem permanece com a expressão triste entre estes. Lembrando-se da própria filha, Dayo por algum motivo inspira um gesto afetuoso da menina que supostamente deveria servir como algo catártico, mas que resulta apenas em um desfecho embaraçoso e apelativo.
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