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Depois de várias semanas de julgamento e dois dias de deliberação por parte do júri, Kevin Spacey foi inocentado hoje das acusações de ter abusado sexualmente de quatro homens entre 2004 e 2013 enquanto atuava como diretor artístico do teatro Old Vic, em Londres. No ano passado, o ator já havia se livrado legalmente em um julgamento em Nova York para avaliar sua responsabilidade em relação às alegações de Anthony Rapp, cuja denúncia contra Spacey foi a primeira a ganhar as manchetes durante a fase mais crítica do #MeToo.
O que isso significa na prática - além de Spacey ter se livrado de passar o resto da vida na cadeia? Ele voltará a ser chamado para participar de projetos em Hollywood? A mancha que havia se espalhado por seu currículo (que inclui dois Oscars) será apagada?
Isto não é impossível, mas eu diria que por enquanto é improvável. Há particularidades neste caso que complicam uma avaliação da repercussão profissional que o resultado deste julgamento terá - e discutirei isso mais abaixo.
Primeiro, porém, creio ser importante pontuar que, vereditos à parte, não acredito na inocência de Spacey. Sim, é possível que um ou outro denunciante tenha inventado abusos (ou distorcido fatos), mas de modo geral acho muito difícil acreditar na inocência de uma pessoa denunciada por múltiplas vítimas. Especialmente quando os relatos dividem detalhes que apontam para um modus operandi recorrente. Não é à toa que Harvey Weinstein, Bill Cosby, R. Kelly, Larry Nassar, Danny Masterson, Ron Jeremy e outros figurões norte-americanos foram condenados por crimes cometidos contra várias mulheres; raramente um estuprador/abusador se contenta com uma única vítima - em particular quando o sujeito já está habituado a escapar impune.
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