Dia desses, assistindo a um vídeo no YouTube com o produtor da série Premonição no qual ele discutia os conceitos e as dificuldades na execução (com o perdão do trocadilho) das cenas de morte vistas ao longo dos cinco primeiros filmes, notei um detalhe que me incomoda desde sempre e que já discuti algumas vezes em textos e redes sociais - algo que diz muito sobre como normalizamos absurdos e polemizamos coisas absolutamente naturais.
Para ilustrar a questão, fiz algumas capturas de tela do vídeo:
Na passagem acima, ele fala sobre uma das mortes do terceiro filme, quando o motor de um carro é arremessado durante uma colisão e destroça a cabeça de um personagem. Já as duas cenas abaixo saíram do segundo longa da série:
O que nos traz às duas personagens mortas em um acidente em uma câmara de bronzeamento em Premonição 3 - e cuja explicação foi tratada visualmente desta maneira pelos editores do canal da Entertainment Weekly:
Durante os mais de 40 minutos do vídeo, todos os inúmeros momentos de violência são apresentados no vídeo sem qualquer tipo de intervenção na imagem, permitindo que o espectador veja com detalhes as vísceras, o sangue e o horror de cada morte. E, no entanto, assim que duas mulheres surgem sem roupa, imediatamente seus seios são cobertos por um efeito de blur.
É algo que realmente sinto dificuldade imensa em compreender: um filme pode trazer pessoas sendo torturadas, mutiladas e destroçadas sem que isto lhe renda uma classificação indicativa mais severa que “recomendado para maiores de 16 anos”; no entanto, basta que haja uma cena de sexo um pouco mais intensa (especialmente se envolver alguma mulher recebendo sexo oral) para que a censura máxima seja aplicada. Do mesmo modo, o YouTube não vê problemas em imagens que trazem violência, mas um par de seios ou um pênis são aberrações inaceitáveis.
Que tipo de sociedade é esta que criamos nas quais o corpo humano em seu estado natural é reprovável, mas mostrá-lo sendo destruído é entretenimento inocente? Por que o ato sexual consentido entre dois adultos é uma ofensa à sensibilidade, mas um tiro disparado à queima-roupa contra a cabeça de alguém é um espetáculo?
Não ao prazer, sim à violência - esta é a lógica de um mundo historicamente moldado pela religião.
Que esperança temos de melhorar como espécie se nossas prioridades são tão invertidas?
Bom, são valores dos EUA. O Youtube é de uma empresa dos EUA, por isso os valores distorcidos. Os EUA serem essa aberração não é nenhuma novidade, o problema é se o resto do mundo levar a sério. Pelo menos na Europa a nudez continua sendo bem mais normalizada.
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