Pablo, sou seu admirador e concordo com quase tudo, mas não podemos ignorar que a política está sendo feita muito fora do parlamento, em outros espaços de congregação e que são células muito bem estruturadas de manipulação da população através do medo. O resultado a gente sente nas urnas. Não basta o Lula colocar a "ferramenta" na mesa e tocar um foda-se se não tiver retaguarda pra isso. Eu gostaria muito que isso fosse possível. Não gosto da conciliação, especialmente com os rematados canalhas que sempre orbitam todos os governos, mas com a falta de consciência de classe da população não é possível governar de outra maneira . Além disso, Lula sempre teve a obsessão de acabar com a fome e por mais que a gente fique contrariado com o jeito que ele tenta fazer isso transitando naquele pântano que é o congresso nacional, o fato é que ele consegue melhorar a vida do povão, esse ingrato e manipulado povão que não vota em quem possa dar maior sustentação ao seu governo. E assim ficamos sempre reféns dessa gentalha fisiológica que é eleita de 4 em 4 anos.
Outro ponto fundamental foi a universalização do uso das redes sociais e aí é que eu acho que foi onde o PT se perdeu por não saber usar como a extrema-direita usa. De qualquer forma, quando se tem algum escrúpulo, fica muito mais difícil alcançar resultados e é por isso que a extrema-direita deita e rola nas redes e avança tanto no legislativo.
Eu, sinceramente, não sei qual é a saída pra esse imbróglio, meu caro, mas é preciso que façamos algo urgentemente ou não vai sobrar nada deste país.
Acho q tem um erro crucial na sua análise. Sim, a conciliação deixa um gosto amargo. Bem amargo e de fato há segmentos na direita q se fortalecem nela, no entanto, há os que se desidratam - e é isso que falta na análise. Os anos de conciliação dos governos petistas foram de absoluto sucesso. Mesmo no auge das denúncias do mensalão, o pt conseguiu se reeleger e fazer a sucessão. Foi justamente quando o pt abriu mão da conciliação que a coisa desandou e veio o golpe. É contra os efeitos do golpe que o governo Lula 3 luta, o fascismo é somente o produto mais violento dessa crise. Culpar a conciliação pelo momento histórico que vivemos é colocar a culpa na vítima e não no agressor. O momento que vivemos não é novo. É a famosa caça às bruxas que observamos acontecer toda vez que a direita apresenta combate. Sim, eles são violentos. Sim, parece que não tem saída. Mas negar a política nunca é a saída. E isso, a conciliação, é política.
Desculpe, mas não creio se tratar de um erro de análise da minha parte, mas de um erro de postura da sua. E que postura é essa? A de resignação diante do reforço negativo.
Há adestradores que defendem o uso de coleiras que dão choque para acelerar o trabalho com animais: sempre que o cão faz algo que o dono considera errado, leva um pequeno choque - e com o tempo abandona aquele comportamento específico. Você parece estar descrevendo um processo similar com a esquerda: caso esta decida - veja só o absurdo! - tentar colocar em prática as ideias que a pautam, sofre um golpe, é enviada para a prisão ou algo do tipo. Até aprender a se "comportar".
Não, a saída não é resignação diante da "política" (que, segundo sua definição estreita, deve ser por regra conciliatória), mas um esforço para remover a coleira e mostrar que não tem dono. A resignação vai na contramão deste objetivo, que deve envolver uma educação política, uma conscientização de classe: trabalhos que a esquerda há muito deixou de fazer. Se a cada melhora do país todo mundo acha que é responsável solitário pelo próprio sucesso, o papel de um governo com consciência social jamais será reconhecido. E, consequentemente, jamais será recompensado com a possibilidade de continuar a desempenhar seu trabalho com tranquilidade, sem receio de golpes e prisões.
É impossível discordar quanto as ideias. Eu tbm queria ver uma esquerda combativa, uma esquerda que pauta o debate e não que o remenda das formas mais grotescas. O que eu apontei como erro foi uma análise do fato concreto e inquestionável de que enquanto esteve com a "coleira", a esquerda crescia. O pt chegou a ter com Dilma 1 a maior bancada do congresso. Algo impensável atualmente. Mas acontece que o vc chama de coleira, eu chamo de jogo. O jogo é assim. E como vc bem falou. Toda vez que estamos perdendo o jogo, há aqueles na esquerda que se levantam para defender a luta armada como saída. Ora, não é coincidência que é exatamente com esse discurso que o Ciro Gomes se projeta. Segundo ele, todos os problemas do país residem justamente no projeto de poder baseado na conciliação. Eu sei o que digo porque já pensei dessa forma. E é um erro. Tomar choque é muito valente, nobre. Mas quem paga de verdade a conta é a população mais vulnerável, que infelizmente é facilmente seduzida pelo canto fascista... Lembrei de uma coisa que ouvi ainda no ensino médio de um professor: "a esquerda só se junta na cadeia". Eu não entendia a frase. Hoje, com o hálito do fascismo na nuca eu consigo compreender perfeitamente. Tá todo mundo desesperado, apontando o dedo uns para os outros pq e agora? O que a gente faz? Nós fazemos o que achamos que precisamos fazer. É sempre assim. Lá atrás, diante do golpe de abril, Jango escolheu não enfrentar os militares. Foi muito criticado. O que seria do Brasil se ele tivesse decidido liderar a resistência? Tudo o que podemos fazer é rezar para estarmos certos. Obg, Pablo pela troca de ideias. Se te ofendi peço desculpas. Eu te admiro demais, mas nao consegui me conter. Apesar de todas as desgraças que enfrentamos, a discussão em si é muito prazerosa. Um bjo.
Você não me ofendeu de forma alguma, não se preocupe.
Eu entendo a atração da conciliação, mas não vejo nela os frutos que você vê. O que eu vi nos últimos 20 anos - e berro contra isso há MUITO tempo; você vai achar textos meus no arquivo do blog e do Cinema em Cena que comprovam isso - foi um crescimento assustador da base evangélica. E muito desse crescimento veio da falta de conscientização política e, principalmente, dos vácuos que a esquerda deixou ao se afastar dos movimentos populares.
E também para deixar um registro claro: eu aponto esses problemas não é de agora - eu já escrevia sobre a conciliação como erosão da esquerda no segundo governo Lula (no primeiro, o contexto era totalmente diferente).
Mas obrigado pelos contrapontos. Valem, sim, reflexão.
Jones Manoel é a esperança pra esquera (não cirandeira) no país.
Pablo, sou seu admirador e concordo com quase tudo, mas não podemos ignorar que a política está sendo feita muito fora do parlamento, em outros espaços de congregação e que são células muito bem estruturadas de manipulação da população através do medo. O resultado a gente sente nas urnas. Não basta o Lula colocar a "ferramenta" na mesa e tocar um foda-se se não tiver retaguarda pra isso. Eu gostaria muito que isso fosse possível. Não gosto da conciliação, especialmente com os rematados canalhas que sempre orbitam todos os governos, mas com a falta de consciência de classe da população não é possível governar de outra maneira . Além disso, Lula sempre teve a obsessão de acabar com a fome e por mais que a gente fique contrariado com o jeito que ele tenta fazer isso transitando naquele pântano que é o congresso nacional, o fato é que ele consegue melhorar a vida do povão, esse ingrato e manipulado povão que não vota em quem possa dar maior sustentação ao seu governo. E assim ficamos sempre reféns dessa gentalha fisiológica que é eleita de 4 em 4 anos.
Outro ponto fundamental foi a universalização do uso das redes sociais e aí é que eu acho que foi onde o PT se perdeu por não saber usar como a extrema-direita usa. De qualquer forma, quando se tem algum escrúpulo, fica muito mais difícil alcançar resultados e é por isso que a extrema-direita deita e rola nas redes e avança tanto no legislativo.
Eu, sinceramente, não sei qual é a saída pra esse imbróglio, meu caro, mas é preciso que façamos algo urgentemente ou não vai sobrar nada deste país.
Um abraço!
irretocável. Como faz bem ler que tem conteúdo e capacidade (no seu caso, talento) para exprimi-lo.
Acho q tem um erro crucial na sua análise. Sim, a conciliação deixa um gosto amargo. Bem amargo e de fato há segmentos na direita q se fortalecem nela, no entanto, há os que se desidratam - e é isso que falta na análise. Os anos de conciliação dos governos petistas foram de absoluto sucesso. Mesmo no auge das denúncias do mensalão, o pt conseguiu se reeleger e fazer a sucessão. Foi justamente quando o pt abriu mão da conciliação que a coisa desandou e veio o golpe. É contra os efeitos do golpe que o governo Lula 3 luta, o fascismo é somente o produto mais violento dessa crise. Culpar a conciliação pelo momento histórico que vivemos é colocar a culpa na vítima e não no agressor. O momento que vivemos não é novo. É a famosa caça às bruxas que observamos acontecer toda vez que a direita apresenta combate. Sim, eles são violentos. Sim, parece que não tem saída. Mas negar a política nunca é a saída. E isso, a conciliação, é política.
Desculpe, mas não creio se tratar de um erro de análise da minha parte, mas de um erro de postura da sua. E que postura é essa? A de resignação diante do reforço negativo.
Há adestradores que defendem o uso de coleiras que dão choque para acelerar o trabalho com animais: sempre que o cão faz algo que o dono considera errado, leva um pequeno choque - e com o tempo abandona aquele comportamento específico. Você parece estar descrevendo um processo similar com a esquerda: caso esta decida - veja só o absurdo! - tentar colocar em prática as ideias que a pautam, sofre um golpe, é enviada para a prisão ou algo do tipo. Até aprender a se "comportar".
Não, a saída não é resignação diante da "política" (que, segundo sua definição estreita, deve ser por regra conciliatória), mas um esforço para remover a coleira e mostrar que não tem dono. A resignação vai na contramão deste objetivo, que deve envolver uma educação política, uma conscientização de classe: trabalhos que a esquerda há muito deixou de fazer. Se a cada melhora do país todo mundo acha que é responsável solitário pelo próprio sucesso, o papel de um governo com consciência social jamais será reconhecido. E, consequentemente, jamais será recompensado com a possibilidade de continuar a desempenhar seu trabalho com tranquilidade, sem receio de golpes e prisões.
Não, eu prefiro continuar levando choque.
É impossível discordar quanto as ideias. Eu tbm queria ver uma esquerda combativa, uma esquerda que pauta o debate e não que o remenda das formas mais grotescas. O que eu apontei como erro foi uma análise do fato concreto e inquestionável de que enquanto esteve com a "coleira", a esquerda crescia. O pt chegou a ter com Dilma 1 a maior bancada do congresso. Algo impensável atualmente. Mas acontece que o vc chama de coleira, eu chamo de jogo. O jogo é assim. E como vc bem falou. Toda vez que estamos perdendo o jogo, há aqueles na esquerda que se levantam para defender a luta armada como saída. Ora, não é coincidência que é exatamente com esse discurso que o Ciro Gomes se projeta. Segundo ele, todos os problemas do país residem justamente no projeto de poder baseado na conciliação. Eu sei o que digo porque já pensei dessa forma. E é um erro. Tomar choque é muito valente, nobre. Mas quem paga de verdade a conta é a população mais vulnerável, que infelizmente é facilmente seduzida pelo canto fascista... Lembrei de uma coisa que ouvi ainda no ensino médio de um professor: "a esquerda só se junta na cadeia". Eu não entendia a frase. Hoje, com o hálito do fascismo na nuca eu consigo compreender perfeitamente. Tá todo mundo desesperado, apontando o dedo uns para os outros pq e agora? O que a gente faz? Nós fazemos o que achamos que precisamos fazer. É sempre assim. Lá atrás, diante do golpe de abril, Jango escolheu não enfrentar os militares. Foi muito criticado. O que seria do Brasil se ele tivesse decidido liderar a resistência? Tudo o que podemos fazer é rezar para estarmos certos. Obg, Pablo pela troca de ideias. Se te ofendi peço desculpas. Eu te admiro demais, mas nao consegui me conter. Apesar de todas as desgraças que enfrentamos, a discussão em si é muito prazerosa. Um bjo.
Você não me ofendeu de forma alguma, não se preocupe.
Eu entendo a atração da conciliação, mas não vejo nela os frutos que você vê. O que eu vi nos últimos 20 anos - e berro contra isso há MUITO tempo; você vai achar textos meus no arquivo do blog e do Cinema em Cena que comprovam isso - foi um crescimento assustador da base evangélica. E muito desse crescimento veio da falta de conscientização política e, principalmente, dos vácuos que a esquerda deixou ao se afastar dos movimentos populares.
E também para deixar um registro claro: eu aponto esses problemas não é de agora - eu já escrevia sobre a conciliação como erosão da esquerda no segundo governo Lula (no primeiro, o contexto era totalmente diferente).
Mas obrigado pelos contrapontos. Valem, sim, reflexão.